Desvendando a Elegância Arquitetônica do Barroco Italiano

Aline Oliveira

No início do século XVII, a Itália exalava um espírito de exuberância que se infiltrava na arte e na arquitetura, gerando uma explosão criativa que culminou no movimento barroco. Esse termo, apesar de sua origem em uma palavra que sugeria deformação, captura a natureza intrincada e extravagante das obras que emergiram na década de 1630. Um exemplo marcante dessa estética é a igreja de San Carlo Alle Quatro Fontane, localizada em Roma (1634-1682), um projeto arquitetônico assinado por Francesco Borromini (1599-1667), um pedreiro autodidata que encontrou fama na capital italiana.

O exterior peculiar e o interior curvilíneo da igreja de San Carlo se assemelham à mente labiríntica do próprio Borromini, refletindo sua imaginação teatral. As linhas curvas e ausência de formas tradicionais oferecem uma experiência arquitetônica singular, desafiando as convenções estabelecidas até então. A junção da planta em forma de cruz grega com o oval das paredes que se curvam para encontrar a cúpula cria um ambiente fascinante e envolvente.

O que Borromini e seu contemporâneo rival, Gian Lorenzo Bernini (1598-1680), conseguiram fazer foi criar um estilo arquitetônico que se assemelhasse ao espírito vibrante da época. Esse período viu o surgimento do teatro, da ópera e de uma vida urbana opulenta, e a Igreja rapidamente percebeu a necessidade de capturar essa energia para manter a fidelidade das massas católicas e contrabalançar o avanço do protestantismo. Assim, por meio da Contra-Reforma, a Igreja abraçou o estilo barroco, construindo prolíficamente nessa estética.

Esse movimento arquitetônico se espalhou pela Europa católica e até mesmo para a Grã-Bretanha protestante, onde assumiu características próprias. Gian Lorenzo Bernini, um escultor multifacetado que também escrevia óperas e projetava cenários, desempenhou um papel significativo nessa evolução. Sua Cappella Cornaro na igreja de Santa Maria della Vittoria, em Roma (1645-1652), é uma obra-prima do barroco italiano. Nela, a famosa estátua de Santa Teresa em êxtase, esculpida por Bernini, interage com membros da família Cornaro em balcões, em uma composição que evoca sensações cinematográficas. A intensidade das expressões e a interação das figuras geram uma aura envolvente, exemplificando a natureza sensual do barroco.

Bernini continuou a deixar sua marca em diversos espaços teatrais, como a Praça de São Pedro, em Roma (a partir de 1656), onde as colunas em curva parecem convidar as multidões para o abraço acolhedor da Igreja. Sua habilidade de direcionar a atenção do público é evidente na Scala Regia, uma escadaria cerimonial no Vaticano (1663-1666), onde a luz solar incide de maneira dinâmica, criando uma sensação de movimento.

Outros arquitetos, como Carlo Rainaldi (1611-1691), também contribuíram para o esplendor barroco, projetando a gloriosa Piazza del Popolo, em Roma (1662-1679). Nesse projeto de planejamento urbano, três ruas convergem em duas igrejas barrocas, marcando um ponto central com um antigo obelisco egípcio. Esse estilo, que mesclava ambição e fantasia, alcançou seu auge em locais como Veneza, onde Baldassare Longhena (1598-1682) projetou a igreja de Santa Maria della Salute, com abóbadas gêmeas e uma entrada grandiosa, que evoca uma atmosfera teatral e exuberante.

Um dos expoentes mais originais e extravagantes desse movimento foi o sacerdote teatino Guarino Guarini (1624-1683). Sua Capela do Santo Sudário em Turim (1667-1690) é um testemunho da fusão entre o geométrico e o cenográfico, um espaço circular envolto por um quadrado, onde a imagem do Santo Sudário é venerada. A abordagem matemática e filosófica de Guarini resultou em criações únicas e provocativas.

O barroco italiano, em sua essência, combinou o dramático com o prático, o teatral com o estrutural. Seus arquitetos conseguiram transcender os limites do puritanismo e criar uma estética ousada e sensual, que capturou a imaginação e a paixão de uma era marcada pela exuberância artística e cultural.

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Fonte:

GLANCEY, Jonathan. The Story of Architecture. London: Dorling Kindersley, 2000.

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