Aline Oliveira
Na Idade Média, um período marcado por fervor religioso e feitos arquitetônicos ousados, surgiram as impressionantes catedrais góticas que ainda nos deixam maravilhados até os dias de hoje. Entre essas magníficas estruturas, a Catedral de Beauvais se destaca como um testemunho da ambição humana e da busca por tocar o céu com a arquitetura.
A Catedral de Beauvais, muitas vezes comparada à Torre de Babel bíblica, foi projetada com a intenção de alcançar as alturas celestiais. Sua nave central, a mais alta já construída, erguia-se a 48 metros acima dos fiéis, enquanto sua agulha alcançava impressionantes 150 metros. Porém, essa grandiosa visão encontrou obstáculos financeiros e técnicos, resultando na interrupção do projeto após 60 anos, com a nave central nunca tendo sido construída.
Apesar das limitações e desafios, a Catedral de Beauvais ainda exibe uma beleza deslumbrante. O que permanece hoje é uma expressão da engenharia e da arquitetura medieval, desafiando os cânones da época. Esta catedral, que desafia as normas da arquitetura clássica, é um exemplo pioneiro do estilo gótico, que dominou a Europa por cerca de 400 anos antes de ceder espaço à influência da renascença italiana.
Uma das características mais notáveis das catedrais góticas, incluindo a de Beauvais, é a busca pela iluminação divina. Os construtores dessas estruturas projetaram naves altíssimas e amplas, adornadas com vitrais coloridos que criavam uma aura de luz celestial. Essas catedrais não eram apenas locais de devoção, mas também símbolos de prosperidade econômica das cidades medievais.
A arquitetura gótica também apresentou inovações engenhosas, como o uso dos arcobotantes, que permitiam a construção de paredes mais altas e janelas maiores, criando um efeito deslumbrante de vitrais coloridos. A beleza ornamentada e a majestade das catedrais medievais contrastavam com as estruturas mais simples da época, estabelecendo uma reverência e admiração duradouras.
A busca por alturas também se manifestou nas agulhas das catedrais, especialmente na Alemanha e na Inglaterra. A catedral de Ulm, na Alemanha, com sua agulha de 160 metros, e a Catedral de Salisbury, na Inglaterra, com sua agulha de 123 metros, representam o ápice da ambição gótica em direção aos céus.
Além das conquistas arquitetônicas, as catedrais góticas eram adornadas com intrincados rendilhados de pedra e vitrais que representavam a habilidade dos artesãos medievais em criar obras de beleza inigualável. Esses detalhes ornamentais incluíam gárgulas, que não apenas decoravam as catedrais, mas também serviam a funções práticas, como a drenagem da água dos telhados.
Em meio a esse ambiente de criatividade e dedicação, as catedrais góticas permanecem como testemunhas do engenho humano e da busca pela divindade. Elas nos transportam para uma época em que a arquitetura era uma manifestação da fé e da ambição, e continuam a nos deixar sem fôlego com sua grandiosidade e beleza, mesmo após séculos de existência. A era das grandes catedrais góticas deixou um legado duradouro que ainda inspira e encanta, relembrando-nos da capacidade humana de criar maravilhas que transcendem o tempo.
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Fonte:
GLANCEY, Jonathan. The Story of Architecture. London: Dorling Kindersley, 2000.
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