Aline Oliveira
O Renascimento, um período marcante na história da arquitetura, floresceu gradualmente na Itália, como uma jornada de auto-descoberta para pintores, cientistas e arquitetos. Eles deixaram de ser meros executores da vontade divina e passaram a se ver como mediadores das formas que moldavam povoados, cidades e arquitetura. Esse novo pensamento racional combinou-se com uma redescoberta da arquitetura romana, um fascínio pela perspectiva e o desejo de recriar as grandezas do passado.
O Renascimento não surgiu de uma vez, como um deus nascido de uma mente divina, mas ao longo de um século ou mais na Itália. Foi um divisor de águas, trazendo a abertura de rotas de comércio e conhecimento. A invenção da imprensa por Gutenberg em 1450 facilitou a disseminação rápida das ideias, enquanto a descoberta da perspectiva, possivelmente atribuída ao arquiteto Filippo Brunelleschi em 1425, causou mudanças profundas na arquitetura.
Esse período também testemunhou uma mudança na sociedade, onde o conhecimento e as ideias deixaram de ser exclusivos do clero, levando a desafios à ortodoxia católica e culminando na Reforma e na Igreja Protestante. Assim como Protagoras afirmava, "o homem é a medida de todas as coisas", a Europa renascentista celebrou a ascensão do ser humano em um mundo onde a arquitetura refletia essa nova mentalidade.
A arquitetura renascentista começou a ganhar forma com a obra de Brunelleschi, especialmente a cúpula que ele acrescentou à catedral de Florença entre 1420 e 1436. No entanto, ela verdadeiramente floresceu com a publicação dos primeiros tratados de arquitetura desde a Roma antiga. Alberti, com seu livro de 1452, delineou os elementos fundamentais da arquitetura com base em proporções matemáticas, harmonizadas com a música, a natureza e até com o corpo humano idealizado.
Essa ênfase na geometria sagrada transformou a mentalidade renascentista, empoderando os arquitetos como agentes da vontade divina. Eles já não eram simples executores, mas substitutos de Deus. Isso levou a um aumento no ego de muitos arquitetos da época.
A disseminação das ideias arquitetônicas também foi impulsionada pela invenção do livro impresso. Agora, os arquitetos poderiam compartilhar suas visões por meio de desenhos e plantas detalhadas, independentemente de sua presença física no local de construção. Isso trouxe um avanço significativo, mas também apresentou desafios.
A arquitetura renascentista, ao mesmo tempo racional e humana, começou a se refletir nas cidades. Imagens famosas, como a pintura no Palazzo Ducale em Urbino, mostravam o cenário ideal onde os edifícios representavam imagens humanas e divinas. Os arquitetos começaram a planejar cidades de forma mais racional, como evidenciado pelos padrões e grelhas que surgiram na paisagem italiana.
Os edifícios ideais transformados em pedra, como a Capela Pazzi e os palazzos em Florença, exibiam detalhes inspirados na Antiguidade e ritmos que se tornariam marcas da grande arquitetura europeia entre 1500 e 1750. Veneza, um centro tardio do Renascimento, abraçou essa nova estética e produziu joias como a igreja de Santa Maria dei Miracoli.
Em última análise, o Renascimento Italiano marcou não apenas uma evolução na arquitetura, mas também uma mudança na mentalidade humana. A arquitetura tornou-se um veículo para expressar não apenas a grandiosidade do passado, mas também a confiança e a criatividade humanas em um mundo que estava passando por transformações profundas.
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Fonte:
GLANCEY, Jonathan. The Story of Architecture. London: Dorling Kindersley, 2000.
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